quinta-feira, 18 de março de 2010

La redécouverte



Eu quero ser o Pierrot apaixonado, as maravilhas do pais de Alice, as asas aos pés de Hermes, Amélie em seu fabuloso destino. Eu quero ser a fera mais bela, os olhos oblíquos de Capitu, as mãos de Da Vinci.
Nos palcos você é o rei, é o bedel e também juiz. Pela sua lei, é obrigado a ser feliz.
Essa é a grande magia do teatro. A magia que espera por plateias. Naquele palco, os problemas desaparecem e os aplausos são seus melhores amigos. Naquele palco enxerga-se que a vida não é só comida. A vida é comida, diversão e arte. Naquele palco há sete mares e todos os impérios. Naquele palco há cultura.
Cultura que parece ser esquecida pelos gigantes relógios da cidade. Pela ignorância. Cultura que não encontra seu tempo. Tempo para trabalhar, estudar, beber, cair e morrer. Tempo que passa. O palco ainda te espera.


Romeu sem Julieta. Teatro sem você.






domingo, 7 de fevereiro de 2010

La Noyée


Pula-se de cabeça quando a maré está baixa.


Mergulhar do último andar do Rockefeller Center parece absurdo. As notícias sobre o tráfico de drogas na favela da Rocinha, se quer parecem pertencer ao nosso mundo. E os jovens que se rendem às drogas?

Alguma coisa está fora da ordem. Suicida não é apenas quem se atirou do Empire State Building. Suicida não é quem enfrentou os Kamikazes japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Suicida é quem se mata aos poucos. Quem acende o cigarro e coloca na boca. Afinal, desde quando fumar deixou de ser uma atitude suicida e se tornou diversão?

Suicida egoísta. Suicida altruísta. Suicida anômico. Émile Durkheim* esqueceu do suicida melancia. Aquele que se mata para aparecer. Aquele que faz uso de drogas na tentativa de colocar uma melancia na cabeça. Afinal, o que mais pode levar um jovem com família, amor, saúde, a mergulhar na maré baixa?











* Acadêmico, sociólogo, antropólogo e filósofo francês. Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do SUICÍDIO e da religião.
** Fotografia de Mariana Pekin

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pré-fabricada


Mulher de plástico. Não importa se você tem um cérebro ou um amendoim, o importante é ser algo entre Barbie e Schwarzenegger, afinal, essa é a nova linha. Oca, com paralisia facial. Sempre com um sorriso no rosto, cabelo impecável e bunda perfeita.
Pequenos defeitos de fabricação são inadmissíveis enquanto ser diferente é insurpotável. Mutilar-se é a lei, morrer na academia é viver bem e beleza é necessidade básica. Com isso, não se sabe se é alien ou mulher. Não se sabe se é olho ou umbigo. Não se sabe se é Sexta-feira- Santa ou Carnaval.
Basta ser perfeita. Afinal, saúde, equilíbrio, beleza real e alegria, não fazem falta neste mundo nosso.
* Imagem de David Lachapelle

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Coelhos.

Fato: Igrejas se reproduzem como coelhos.

Primeiro passo: Alugue uma garagem
Segundo passo: Coloque uma placa " Show da Salvação "
Terceiro passo: Anuncie pedacinhos do céu
Quarto passo: Contrate um artista para convencer as pessoas a compra-lo
Quinto passo: Lembre-se da assinatura da Virgem Maria para autenticar a venda
Sexto passo: Monte uma banda de "heavy metal gospel" para fazer uma lavagem cerebral nos seguidores.
Sétimo passo: Arranque cada centavo de quem entrar na garagem, digo, Igreja, com dízimos absurdos.
Oitavo passo: Lembre-se, promessas de falsos milagres rendem uma boa grana
Nono passo: Você está à um passo do paraíso
Décimo passo: Enriqueça enquanto os pobres coitados se ferram.

Moral da história: Tenha fé, acredite em Deus e lembre-se: Ele não faz Igrejas.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Merda

O Brasil é a peça da calamidade pública. O teatrinho da criminalidade é ensaiado todos os dias e o público simplesmente assiste e vai embora. Vai embora. Sai do salão passivo e sem voz. Alguns até reclamam que o protagonista não era galã de cinema ou alegam que a poltrona era desconfortável. Mas ninguém, ninguém prestou atenção no enredo que abarcava o espetáculo.
Quando sai na capa da Veja que o teatro foi um fiasco, que o bandido não foi preso e a mocinha não foi salva, reclamam. Resmungam. Alegam ter pagado caro pelo bilhete. E realmente pagaram. Mas é só sair a edição sobre Copa do Mundo que todos esquecem do outro espetáculo. Esquecem que pagaram e continuam pagando caro por não entenderem que não existe mocinha e que os vilões não são só quem está no poder, e sim o povo que os deixa no poder, que os coloca no poder. Vilã é a plateia que ajuda a construir o fiasco do espetáculo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

panem et circenses

Cômico e trágico é pensar como a política do pão e circo se sustenta até hoje. Migrou de Roma para o Brasil com pequenas mudanças. Aqui, nós somos os palhaços... Pão? Inexistente.