domingo, 7 de fevereiro de 2010

La Noyée


Pula-se de cabeça quando a maré está baixa.


Mergulhar do último andar do Rockefeller Center parece absurdo. As notícias sobre o tráfico de drogas na favela da Rocinha, se quer parecem pertencer ao nosso mundo. E os jovens que se rendem às drogas?

Alguma coisa está fora da ordem. Suicida não é apenas quem se atirou do Empire State Building. Suicida não é quem enfrentou os Kamikazes japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Suicida é quem se mata aos poucos. Quem acende o cigarro e coloca na boca. Afinal, desde quando fumar deixou de ser uma atitude suicida e se tornou diversão?

Suicida egoísta. Suicida altruísta. Suicida anômico. Émile Durkheim* esqueceu do suicida melancia. Aquele que se mata para aparecer. Aquele que faz uso de drogas na tentativa de colocar uma melancia na cabeça. Afinal, o que mais pode levar um jovem com família, amor, saúde, a mergulhar na maré baixa?











* Acadêmico, sociólogo, antropólogo e filósofo francês. Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do SUICÍDIO e da religião.
** Fotografia de Mariana Pekin

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pré-fabricada


Mulher de plástico. Não importa se você tem um cérebro ou um amendoim, o importante é ser algo entre Barbie e Schwarzenegger, afinal, essa é a nova linha. Oca, com paralisia facial. Sempre com um sorriso no rosto, cabelo impecável e bunda perfeita.
Pequenos defeitos de fabricação são inadmissíveis enquanto ser diferente é insurpotável. Mutilar-se é a lei, morrer na academia é viver bem e beleza é necessidade básica. Com isso, não se sabe se é alien ou mulher. Não se sabe se é olho ou umbigo. Não se sabe se é Sexta-feira- Santa ou Carnaval.
Basta ser perfeita. Afinal, saúde, equilíbrio, beleza real e alegria, não fazem falta neste mundo nosso.
* Imagem de David Lachapelle